sexta-feira, 26 de outubro de 2012

DITADURA DA FELICIDADE!!!

Hoje é sexta feira, dia de espantar a "manganga" que a semana insistiu nos empurrar goela a baixo; dia em que se mascara a dor e todos cantam...

Cerveja
Leonardo

Hoje é sexta-feira
Chega de canseira
Nada de tristeza
Pega uma cerveja
Põe na minha mesa

Hoje é sexta-feira
Traga mais cerveja
Tô de saco cheio
Tô prá lá do meio
Da minha cabeça

Chega de aluguel
Chega de patrão
O coração no céu
E o sol no coração
Prá tanta solidão
Cerveja cerveja cerveja cerveja cerveja
Cerveja.

Todavia, porém, contudo a segunda feira vem aí e todos novamente viverão as DORES DA VIDA nova-mente!!!

Há que se perguntar. Quais são estas dores?

1. Dor Moral, 2.Dor Emocional, 3. Dor Cultural, 4. Dor Social e 5. Dor Existencial.

Por Dor Moral se entende as vivências aflitivas, ambíguas, contraditórias, dialéticas dilaceradoras da interioridade humana, é a cisão entre o querer e o fazer. Por Dor Moral podemos entender como a crise da insatisfação pessoal, cobrança que surge permanentemente dentro de nós e que é advinda da projeção do bem que sabemos existir e da opção esquisita em fazer o que não gostaríamos que fosse consecutado, realizado e, sem que, às vezes saibamos como, fazemos. Dor Moral é a tortura psicológica de afligirmos a nós mesmos, onde nos convertemos em algozes pessoais, com punições e sentimentos de baixo-estima que emergem todas as vezes que sucumbimos e nos sentimos derrotados pela projeção elevada que tínhamos feito a nosso respeito e a terrível constatação que o mais forte em nós é o não-ser-projetado, ou, por uma questão de ênfase da idéia, é o que Paulo chama de ser-o-que-não-quer-ser, “Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço”. A Dor Moral gera em nós a compulsão do negativo.

Dor Emocional é o registro, o arquivamento, a catalogação das impressões externas, das vivências contraditórias, das informações que chegam e grudam, colam, se alojam no mais profundo do nosso psiquismo, gerando a partir das sensações sentidas, o trágico sentimento de baixa-estima, que é sem sombra de dúvida, a porta que abre para o horizonte da desumanização. Dor Emocional tem haver com palavras que foram faladas de maneira destrutiva, achatadora, agressiva, cuja finalidade era diminuir e despotencializar o valor da pessoa. Palavras que foram ditas para gerar o sentimento de inferioridade, de ausência de dignidade, de luto da individualidade, engravidando a pessoa com toda a sorte de complexos, de neurose e psicose, de paranóias que vão abrindo caminho para psicossomatização, onde se dá o parto de doenças que desequilibram por completo qualquer projeto de saúde humana. Em função disto, para que se evite esta ocnose emocional, costuma-se optar por três coisinhas que, ao invés de serem libertadoras, sufocam e asfixiam ainda mais o lado emotivo da pessoa, embora, no anseio de se ver livre da Dor Emocional, não perceba que a fuga só faz adoecer e ferir mais o já tão doente cosmo psicológico.

A primeira coisa é ficar cética, não crer mais em nada, como se a ausência de qualquer projeto de credibilidade para com quem quer que seja, fosse a alternativa mais viável e razoável que exista. A segunda é ficar cínica, não levar mais nada a sério, fazer do deboche o tema das relações, abortando os vínculos de sentimentalidade, vivendo um ensaio de coisificação, fazendo piada dos sentimentos alheios, contagiando o mundo de um cinismo mortífero, dizendo que, se tudo acaba em Dor, que se danem os outros, que amarguem, que apodreçam e que não mais apodreça eu. Em terceiro e último, a pessoa cai num circulo vegetativo de vida, supondo que esteja vivendo, sem perceber que parou que se estagnou, porque, quem não enfrenta a vida com o coração na mão, não sabe e jamais saberá o que é a vida. No fim de tudo, só sobra à frase que vi em um muro em Brasília e que sintetiza a morte de todos os referenciais, da negação do sentido, do enterro dos absolutos. A frase dizia assim: “é, eu num sei não... eu só sei... que sei lá!!!”.

Também podemos encontrar entre nós, a Dor Cultural e que nem sempre é tratada em hospital, e não é levada a sério em clínica alguma; posto de saúde não atende ninguém com este mal e, como não poderia deixar de ser, não faz parte de estatística oficial, tendo em vista que não se trata de caso clínico. A Dor Cultural está grudada ao fato da pessoa viver frustrada porque não consegue ser o que gostaria de ser pra ela mesma. “Ninguém sonha em ser ninguém, todos sonham em ser alguém”. A Dor Cultural se acentua na necessidade de ter intérprete de tudo que acontece no teatro da vida. Dor Cultural tem haver com a utilização do silêncio, quando, no peito, o que existe é vontade de falar, de gritar, de opinar, de legitimar o que está pensando ou sentindo, o silêncio neste caso não é tática de sabedoria, e, sim, fuga do ridículo, do medo da mediocridade, de ser motivo de riso, de piada pelos que sabem decifrar as variáveis da história.
Dor Cultural pulsa aí. Na escassez de legitimidade do que se é e do que se pensa, na falta de representatividade pessoal, na opinião que ninguém escuta, na leitura que ninguém leva a sério, na consideração que não passa de equívoco, sendo que o vazio cultural o descredencia a falar, sobrando, então, o escape imposto pelo silêncio, barbárie que já foi cometida no período da escravização brasileira e que volta a se repetir no aqui e agora que vivemos.
O que quero deixar pra você é que a Dor Cultural produz condicionamento de espaço, imperativiza o limite, corta pontes, cerca caminho, obstrui projeto, levanta muro e determina posição na vida. Sem dúvida alguma, gera muita dívida, se constitui num grave impedimento à verdadeira humanização e descoberta do valor pessoal e da história.

A Dor Social diferente da Dor Cultural tem o espinho de não ser o que gostaria de ser para o outro. Como ninguém vive só pra si mesmo, embora às vezes exista gente tentando se ilhar; necessitamos de relacionamentos com os outros, precisamos sair de nós mesmos e irmos ao encontro dos outros, fazer com o que nosso eu descubra e se envolva com o tu que, também é um eu, e juntos, celebremos o encontro, deixando que nossa individualidade vire sociedade humana.
A sociedade humana é feita, urdida e tecida antropológicamente, assim. Sou a soma de cada eu, mais cada tu, mais um ele, acontecendo o fenômeno do singular se deixar pluralizar, tendo como resultante de todos os encontros, o nascimento dos nós.
A constituição genética e psicológica do homem sente falta do outro, seja em que lugar for do mundo e em que cultura se encontrar. O ser humano é potencialmente carência do outro e o outro, carência de mim. Por isso é que se fala de encontro, porque, se eu não for, o outro vêm e se o outro não vir, eu vou. Só que normalmente o encontro se dá “indo”.
Nós somos procura e somos, concomitantemente caça. Nós procuramos e, de forma idêntica somos procurados. E a vida é construída de encontro, embora exista tanto desencontro na vida, lembrando Willian Shakeaspeare, que foi lembrado por Vinícius de Moraes. O encontro é que dá beleza a tudo, colore todas as coisas, faz do mundo um jardim, transforma um dia normal em dia excepcional, data vulgar em data de celebração. Coisa que muitos não tem. Liberdade social.

A última Dor que quero chamá-lo a pensar comigo, é a Dor Existencial, sendo que na minha óptica, no meu jeito de ler a vida, é a que mais dói, fere e faz o homem gemer.
A Dor Existencial é o resultado de todas as outras, é a soma total de tudo que foi falado. Se não existisse a Dor Moral, Emocional, Cultural e Social, não haveria Dor Existencial, lembrando que o existencial não existe por si só, mas faz parte de um conjunto, está ligado ao todo da vida, sendo que tudo é o estrutural, no caso a vida, e a parte, o conjuntural, que no caso é o existencial.
Até pouco tempo não se falava do existencial no mundo. Quase tudo era do “espiritual”, do sagrado, do transcendente, do sobrenatural, onde as questões levantadas eram normalmente respondidas por teólogos ou religiosos. Todavia, não significa que não existia. A idéia do “existencial” começou no século XIX e, agora, é tratada com tanta ou mais ênfase do que o “espiritual”.
A questão do existencial começou com Sören Kierkgaard, teólogo e filosofo dinamarquês (1.813-1.855), filho de pastor protestante, que trabalhou exaustivamente a tese de que viver é o desespero do homem, sendo acompanhado por outros, principalmente Sartre, o existencialismo ateu.
Para Kierkgaard a vida é horizontalizada, o objeto da própria reflexão filosófica na sua existência concreta, sempre definida nos termos do limite, do finito, do instante estanque, e pelo fato de “já” não possuir ou ser portador de umas essências abstratas, espirituais e universais, é o responsável direto por perguntar e ele mesmo responder os grandes temas da vida, consciente de que é um ser sozinho-no-mundo, o “ser-em-situação”, e, quando percebe que as perguntas são múltiplas e as respostas mínimas, vive a angústia de não-ser, porque a pergunta surge do interior do limite e algumas respostas só podem vir do mundo exterior, mundo-não-limite, não condicionado e, fazendo com que ele, mundo exterior deixe de existir, fica a pergunta totalmente sem resposta.

Seres humanos normais sentem na pela a Dor Existencial...

Muita gente tem um conceito distorcido de felicidade. O mais comum é vê-la como ausência completa de dor e como uma seqüência de momentos nos quais a pessoa se sente bem. É fácil preencher a vida com uma série de episódios efêmeros de bem-estar, como sair com os amigos ou beber uma cerveja gelada. São diversões que podem trazer satisfação momentânea, mas na manhã seguinte a vida não estará melhor e não haverá como evitar que aconteçam coisas ruins. Todos sabemos que um dia vamos morrer, todos nós lembramos da perda de um amigo querido, de algum erro que cometemos, de dramas, traições ou doenças. A diferença entre o homem e outras criaturas está na capacidade que ele tem de usar suas habilidades cognitivas para remoer os erros e infortúnios do passado e temer as incertezas do futuro. Por isso o normal é sentir dor e sofrer.

"As artimanhas que usamos para escapar da aflição nos desviam de nossos objetivos de vida. E é por eles que vale a pena viver". (Steven Hayes).

Paulinho Almeida.
Tempo de Vida.
26.10.2.012.

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